Amanhã

Definitivamente, a população humana crescente necessita de combustível fóssil para sobreviver. A maioria de nós come basicamente
petróleo e as enfermidades são controladas principalmente através de tecnologias dependentes de grandes quantidades de energia. Esta é outra razão porque duvido da capacidade de ativistas, ou do Estado, para convencer a sociedade a abandonar o combustível fóssil. Parece irreal, mas, ao menos para bilhões de pessoas, o fim da importação de recursos do passado pela humanidade significaria uma vida muito mais curta.Em um mundo significativamente mais quente, a mortalidade massiva de pessoas é uma possibilidade, mesmo sem aceitar a ideia
do pico de petróleo. Quando o terceiro mundo se tornar mais quente e mais pobre, as importações petroquímicas necessárias para manter a produção estarão fora do alcance dos agricultores, mesmo que os combustíveis fósseis ainda não tenham sido esgotados. Pior ainda, enquanto a agricultura industrial aumentou a capacidade de carga da Terra temporariamente, no processo de implementação,grande parte da terra “produtiva” foi desertificada e, sem a aplicação de fertilizantes, agora seria incapaz de produzir a quantidade de comida que poderia produzir originalmente. Mesmo aqueles sulistas sortudos o suficiente para conseguirem acesso ao combustível fóssil, perceberão que suas poções mágicas perderão seu poder quando o solo secar, cozinhar e for arrastado pelo vento. Com uma nutrição insuficiente e falta de medicinas, as enfermidades levarão embora grande parte das pessoas esfomeadas.

É bom imaginar que os países em que ainda pudesse ser possível produzir quantidades consideráveis de comida (em parte graças às condições melhoradas de cultivo – mais sobre isso adiante) a oferecessem aos demais, mas eu não me iludiria tanto: hoje em dia já passa fome um bilhão de pessoas no mundo. Mais que a espetacular e massiva morte de comunidades inteiras, aumentará a mortalidade infantil e produzirá um decrescimento na expectativa de vida em geral. Característica de permitir – e causar – que milhões morressem de
fome (como aconteceu na Irlanda), de forma cada vez mais sangrenta. Mike Davis nos recorda um exemplo bastante esquecido
quando escreve (em Os Holocaustos do Período Vitoriano Tardio) sobre os 30 a 60 milhões de pessoas que no final do século XIX morreram
de inanição “não por estarem fora do ‘sistema mundial moderno’,mas sim justamente pelo processo de serem incorporadas pela força
em suas estruturas econômicas e políticas”. Ao longo do século seguinte,houve ondas de fome similares, muitas delas dirigidas pelos
Estados socialistas, estes esforçados aprendizes do império britânico.Seria utópico e desesperador pensar que a fome pode ser erradicada
da condição humana, mas a realidade de hoje é que muitas pessoas morrem de fome enquanto outras, nessa mesma sociedade,engordam. A fome é a linguagem da guerra de classes. O poder pode adquirir muitas formas; no futuro a fome provavelmente terá entre as mais pobres a forma da violência de gênero, da mesma forma que acontece atualmente. Ainda que a densidade demográfica e os padrões de consumo
industrial estejam estreitamente relacionados, não aprofundarei aqui sobre sua contribuição para o aquecimento global. Hoje, a população
– mundial e local – é um obstáculo para qualquer “descarbonização” significativa. Amanhã, a presente incapacidade do capitalismo para controlar seu vício em combustíveis fósseis implicará num colapso populacional em massa.

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