Algumas conjecturas

April 10th, 2019 by Deserto

Haverá desertos quentes que se expandirão sobre grande parte do sul do planeta e pelo centro e sul da Europa.

• Haverá desertos frios que se retrairão no norte do planeta,para deixar terras novas nas fronteiras da Sibéria, Escandinávia,Canadá, Groenlândia, Alasca e inclusive, em certa medida, em parte da Antártida.

Tentativas massivas de migração das zonas áridas para as zonas ainda habitáveis.

• Morte massiva de seres humanos junto com a extinção acelerada
das espécies.

Lovelock o coloca em termos bem mais bruscos:

Os humanos se encontram em uma situação bastante difícil, e não creio que sejam suficientemente astutos para manejar o que vem pela frente. Creio que vão sobreviver como espécie, mas a matança neste século será enorme (…) a quantidade que restar ao final do século será provavelmente um bilhão de pessoas, ou menos.

Claro que não sei se esta será exatamente a imagem do presente e do futuro da mudança climática. A verdadeira complexidade do sistema
Terra (e as dinâmicas sociais humanas que existem nele) provavelmente está além da nossa compreensão (definitivamente estão
além da minha) e estes modelos não devem ser confundidos com a realidade. Minha intuição (que é tudo o que se pode ter na intenção
ilusória de descrever o futuro) é que a imagem que descrevi é uma aproximação razoável. Pode ser que você não esteja de acordo, mas
lhes pediria que a tenham em conta já que é uma possibilidade que vale a pena considerar. Essa intuição está cimentada tanto na crítica
anarquista do capitalismo como na leitura científica climatológica.

Se olho ao meu redor vejo um belo dia ensolarado e o brilho das folhas das árvores, mas não há indícios de que a sociedade na qual vivi
possa solucionar um problema da magnitude e complexidade implicado nas mudanças climáticas. Sinto que a grande questão que é preciso ser feita não é se chegará o mundo descrito acima, mas sim quando.

 

Lovelock propõe seriamente que tal mundo, ou para ser mais correto, tais mundos, surgirão ao final deste século. Talvez leve
mais tempo, mas, de qualquer forma, pode ser uma vantagem ter em conta estas mudanças na hora de planejarmos o que queremos
alcançar com nossas vidas. Para sermos claros, não estamos falando de um apocalipse milenar, ainda que se sintam assim as pessoas que vivem alguns de seus momentos mais terríveis ou excitantes. Estamos falando de uma mudança massiva e acelerada. James Hansen (NASA) comenta:
Se quisermos preservar um planeta similar àquele em que se desenvolveu a civilização e ao qual se adotou a vida, as evidências paleolíticas e a presente mudança climática sugerem que o CO2 deverá ser reduzido dos 385 ppm presentes para 350 ppm, no mínimo33. O mais provável é que isso não aconteça. O nicho ambiental em que a civilização (urbana, com divisão de classes e sustentada pela agricultura) se desenvolveu está desaparecendo e com ele provavelmente desaparecerão muitos de seus cidadãos. E existem muitos, muitos cidadãos.

6.4°C

April 7th, 2019 by Deserto
Os fatores, entre outros, são:
Mudanças tão rápidas e complexas que impedem que os programas de investigação e publicação possam seguir seu ritmo.
A não compreensão da Terra como um organismo vivo, um sistema dinâmico e autorregulado
A falta de trabalhos multidisciplinares devido à compartimentação acadêmica.
As pressões governamentais sobre os informes do IPCC
O possível encobrimento do aquecimento atual pelo obscurecimento em escala global
Não é tanto a ciência em si o que está em discussão aqui, quanto a forma como aparece nos sumários dos legisladores, a redação e edição como resultado da pressão governamental. Outros no campo da ciência também pediram maior independência dos governos:
IPCC Amá-lo, trocá-lo ou descartá-lo?
A contaminação industrial aumentou as partículas de aerossol na atmosfera e acredita-se que essas partículas refletem a luz solar do espaço aumentando a formação de nuvens. Se amanhã alguém pudesse deter completamente a indústria mundial de alguma forma, este efeito de obscurecimento global desapareceria e a temperatura da superfície poderia aumentar significativamente quase de imediato. Isto colocaria
em marcha mecanismos de retroalimentação, gerando monstruosos aumentos nos gases estufas de origem não artificial. Lovelock acredita que por essa razão estamos vivendo num clima “sem saída”: condenado se fazemos algo e condenado se não fizermos nada. Aqui esbocei uma imagem muito simples (e portanto, imperfeita) de um processo muito complexo.
Excede ao objetivo deste texto dar um resumo geral do pensamento lovelockiano, bem como sobre o resto das investigações sobre
o aquecimento global. Parte da natureza do problema é que, no momento em que estiver lendo isto, a ciência terá avançado consideravelmente. Caso se interessem, deem uma olhada nas fontes que citei e ampliem sua leitura. Não obstante, apesar da variação observada nos detalhes, grande parte da ciência está de acordo de que é mais provável que estejamos nos dirigindo inevitavelmente a uma terra consideravelmente mais quente, e que isso está acontecendo rápido. Observações recentes nos colocam em uma posição muito mais
avançada de que a maioria de nós pensava faz uns poucos anos: inclusive décadas mais avançada. Junto com a inércia de reduzir as
emissões de carbono, as possibilidades que temos de “frear” as mudanças climáticas massivas são provavelmente muito poucas.
Enquanto ONGs seguem balbuciando sobre deter os graus de aumento da temperatura, os climatologistas estão cada vez mais de
acordo com a previsão de um aumento de 4 graus até o fim do século, ou até mesmo até 2060.E este não é o cenário mais pessimista.
O informe de 2007 do IPCC fez previsões de um aumento entre 2 e 6.4°C neste século. Seu ex-presidente, Bob Watson, advertiu que “o
mundo deveria trabalhar em estratégias de mitigação e adaptação para um aquecimento de 4°C”. O panorama de Watson já é bastante ruim, mas Lovelock vai um pouco além e cita uma quantidade de mecanismos de retroalimentação que, ele acredita, já estão nos levando a um estado mais quente, dos quais o derretimento do gelo oceânico mencionado anteriormente é o mais conhecido. Que aspectos pode alcançar esta nova condição mais quente?

Vingança de Gaia

April 5th, 2019 by Deserto

Em 2005, a contagem regressiva imaginada no título havia chegado a zero e o criador da teoria de Gaia, James Lovelock, estava escrevendo A Vingança de Gaia, onde expunha que, provavelmente,a Terra Vivente (Living Earth) estava mudando de forma irreversível para uma Condição mais quente. Lovelock chegou a essa conclusão ao comprovar que os dados científicos da mudança climática estavam sobrepassando o que antecipavam a maioria das predições. Quando se dirigiu à Sociedade Real Britânica, disse:

 

Imagem

A retroalimentação positiva do aquecimento pelo derretimento do gelo flutuante do Ártico e da Antártida está gerando, por si mesma, uma aceleração do aquecimento sistêmico, cujo total logo será – ou talvez já seja – maior que o produzido por toda a contaminação de CO2 gerada até agora. Isto sugere que a implementação do tratado de Kyoto, ou algum “super Kyoto”, dificilmente tenha êxito. (…) Devemos entender que o sistema terrestre está agora em retroalimentação positiva e está indo inevitavelmente a um estado quente estável, como o dos climas do passado.

Defender publicamente a energia nuclear, duvidar que os parques eólicos sejam a panaceia e as claras declarações de que a mudança climática é provavelmente inevitável a essa altura, fizeram Lovelock pouco popular entre os ambientalistas já que sua mensagem se desvia da corrente geral. É pouco conveniente que tenha tão boa reputação científico ambiental. Como bom erudito, durante seus noventa anos trabalhou em muitos âmbitos. Principalmente,foi o inventor do detector de captura de elétrons que tornou possível a descoberta do buraco na camada de ozônio, que permitiu que Rachel Carson escrevesse seu livro Primavera Silenciosa (Silent Spring)27. Sua hipótese de Gaia, a princípio herética, de uma Terra Vivente e autorregulada, é agora amplamente aceita sob o título de Ciências do Sistema Terra (Earth System Science). Tem defendido durante muito tempo a expansão da terra selvagem e apoiado ações de defesa ecológica. É um ávido caminhante e até levou adiante pessoalmente uma campanha sobre o direito de perambular livremente já nos anos 1930! Seus detratores, em geral, admiram seu trabalho pela sua qualidade de pioneiro, mas dizem (discriminando-o pela sua idade) que ficou um pouco louco. Mas o verdadeiro problema é que desenvolveu toda sua carreira profissional sob nenhuma ideologia em particular e sem depender do financiamento de ninguém. Por isso, tem a capacidade de dizer o que tantos membros de instituições científicas e ambientais pensam, mas temem dizer em público. Lovelock acredita que uma grande variedade de fatores contribui para que se subestime o alcance dos efeitos produzidos pela humanidade sobre o planeta.

 

É MAIS TARDE DO QUE ACREDITAMOS

March 31st, 2019 by Deserto

A mudança climática será mais rápida do que o esperado.

Algo recorrente no ambientalismo é que, apesar de parecer que o apocalipse está logo ali na esquina, sempre há tempo para solucioná-lo. Cada nova geração parece ter uma última oportunidade para salvar o planeta. O biólogo Barry Commoner disse em 1970:

“Estamos num período de graça, temos tempo – talvez uma geração – para salvar o meio ambiente dos efeitos finais do dano que
lhe temos causado.” Hoje em dia se ouvem declarações similares,
mas, o mais seguro é que o período de graça tenha terminado.

Em 1990, os editores da revista The Ecologist publicaram uma avalia-
ção geral do estado da terra em 5000 dias para Salvar o Planeta (5000 days to Save the Planet).
É dito que nosso planeta está em crise, que estamos destruindo-o e contaminando-o até provocar uma catástrofe mundial. (…) É possível que nos restem nada mais que quinze anos, um período tãocurto como 5000 dias para salvá-lo. (…) Uma das
maiores preocupações que surgem desde a teoria de Gaia é que estamos forçando os processos naturais para além de sua capacidade de manter uma atmosfera apta para a sobrevivência das formas de vida mais complexas. Uma vez superado
esse limite, o sistema pode mudar gerando um ambiente novo que seria extremamente inóspito para a vida tal qual a conhecemos. Uma vez desencadeada, a mudança para a nova condição poderia se desenvolver em grande velocidade.

Respira. Respira. Respira. E prepara-te para um novo mundo.

March 30th, 2019 by Deserto

Por Inhabit

Uma multiplicidade de pessoas, espaços e infra-estruturas formam a base onde territórios autónomos e poderosos tomam forma. Tudo para todos. A terra é dada para uso comum. A tecnologia é quebrada e libertada. Tudo uma ferramenta, tudo uma arma. As linhas de abastecimento autónomas quebram o estrangulamento económico. Redes integrais fornecem comunicação em tempo real para aqueles que sentem que uma vida diferente deve ser construída. Enquanto os governos falham, os territórios autónomos prosperam com um novo sentido de que, para sermos livres, temos de estar ligados a esta terra e à vida nela. Os enclaves do tecno-feudalismo são pilhados pelos recursos. Enfrentamos as forças em declínio da contra-revolução com as opções: o inferno ou a utopia? Ambas as respostas nos satisfazem. Finalmente, chegamos ao limiar – sentimos o perigo da liberdade, o abraço de viver juntos, o milagroso e o desconhecido – e sabemos: isto é vida.

Se acabó.  Agacha la cabeza Y  checa el  apocalypsis en  tu teléfono.

March 30th, 2019 by Deserto

Observa mientras Silicon Valley re- emplaza todo con robots. Nuevos cultos fundamentalistas mortales hacen que ISIS parezca juego de niñxs. Las autoridades lanzan una aplicación de geolocalización para delatar a inmigrantes y disidentes políticos en tiempo real; mientras que los metafascistas financian campos de concentración de manera colectiva. Los servicios gubernamentales fallan.

Los Políticos hacen uso de medidas cada vez más Draconianas y la izquierda sigue ladrando sin dientes. Mientras tanto, los glaciares se derriten, incendios salvajes arden, el Huracán Lo Que Sea ahoga a otra ciudad. Antiguas plagas reemergen de la descongelación del permafrost.

Trabajo infinito mientras los ricos se benefician de la ruina. Finalmente, sabiendo que no hicimos nada, perecemos, compartiendo nuestra tumba con toda la vida del planeta.

https://es.inhabit.global

Não haverá um futuro global.

March 26th, 2019 by Deserto

Darei por certo que vocês, leitoras e leitores, entendem a irrealidade ingênua de tais “grupos de pressão”, mas vale a pena prestar atenção nessas tendências ao analisar campanhas menos institucionalizadas contra as mudanças climáticas.

Existem três tendências principais por onde muitas costumam transitar erraticamente.

Primeiro estão as que têm crenças similares às do Greenpeace (entendendo a “ação direta” como estratégia de conscientização ou grupos de pressão cidadã).Em seguida, estão as que usam o discurso das mudanças climáticas para alentar mobilizações locais que,ainda que provavelmente não tenham efeito algum sobre as mudanças climáticas, pelo menos mantêm objetivos práticos e realizáveis,como, por exemplo, parar a destruição de um ecossistema determinado, o empobrecimento da qualidade de vida de uma comunidade, ou simplesmente aumentar a capacidade de autogestão.

Por fim, estão as anticapitalistas nostálgicas que concebem “a justiça climática” como a metamorfose do imaginário “movimento alterglobalização” (nota-se que a expressão “antiglobalização” tem caído em desuso).Um escritor anônimo descreveu muito bem essa última tendência:

[Quando as ativistas] tentam nos convencer de que esta é “a última oportunidade de salvar o planeta”(…) o fazem com a intenção de construir movimentos sociais.(…) Nos últimos anos, nos círculos radicais,ronda uma tendência crescente e perturbadora baseada na ideia de que um positivismo cego pode con-duzir a vitórias interessantes e inesperadas.Os livros de Michael Hardt e de Tony Negri trouxeram algumas bases teóricas para sustentar essa afirmação;algumas pessoas as adotaram para unir as massas sob a bandeira da precariedade, organizar as imigrantes e criar mobilizações durante os encontros.Para muitas da tradição esquerdista foi a mensagem de esperança que estavam esperando ouvir em tempos em que sua ideologia parecia mais débil que nunca.(…) As teóricas, que supostamente compreendem ao capitalismo o suficiente, escrevem que o mo-mento das liberdades para todos e uma renda básica universal são objetivos realizáveis.É possível que nem mesmo acreditem no seu próprio discurso; ainda assim, se esforçam para inspirar a outras para que o façam, argumentando que os “excessos” gerados por esses sonhos utópicos originaram movimentos potentes para mudança.A mudança climática(…) é, sem dúvida, o laboratório experimental adequado para políticas de esperança pré-fabricadas,às quais somos alheias.No entanto, enquanto os políticos (aqueles dinamizadores, não autoritários) assistem como prosperam seus partidos, ainda existemrazões para viver no mundo real.

As novas referências se parecem com as antigas.Tanto umas quanto outras consideram que um futuro global só será possível se nos organizarmos.Porém, de fato, – seja dentro dos ecossistemas em geral, como no espírito das pessoas em particular – não há um único futuro mundial possível e nenhuma comunidade imaginária, tanto estatal como “popular” (ou as duas juntas como proposto na conferência de Cochabamba), pode deter a mudança climática.

Dada nossa óbvia incapacidade de refazer o mundo inteiro a nossa maneira, alguns substituem o mito da “revolução mundial”pela crença em um “colapso mundial” iminente, hoje em dia uma combinação de mudança climática e pico do petróleo.Como veremos mais adiante – tanto nos capítulos seguintes – como nos anos que virão – o aquecimento global trará um sério desafio à civilização em algumas áreas e a aniquilará em outras.Apesar disso, em algumas regiões, certamente, se darão as condições necessárias para que a civilização se propague.Alguns lugares se manterão (re-lativamente temperados), tanto climatológica como socialmente.Da mesma forma que a civilização, a anarquia e as anarquistas serão seriamente desafiadas; às vezes aniquiladas.As possibilidades– para a liberdade e para a vida selvagem – aparecerão e desaparecerão.A desigualdade que caracteriza o presente será aprofundada.Não haverá um futuro global.

Da globalização às mudanças climáticas

March 25th, 2019 by Deserto

Para muitas de nós, a perda de ímpeto do movimento antiglobalização implicou na queda da ideia de mudança mundial e seu otimismo religioso.Porém, nos últimos anos, outra tentativa de reviver um “movimento mundial” apareceu de novo entre nós, desta vez apoiando-se nas mudanças climáticas.

Muitas articularam a mobilização durante a Conferência Sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas em Copenhague como se fosse a nova Seattle, alguns grupos aclamavam estar “construindo um movimento global para solucionar a crise climática”.

O Greenpeace, por exemplo, disse que:
(.) as mudanças climáticas são um problema público mundial.Para solucionálo são necessárias ações coletivas a nível global.(…) Não temos outra alternativa além de construir um movimento debase mundial, pressionar aos políticos e forçar ascorporações e bancos para que mudem de rumo.

Darei por certo que vocês, leitoras e leitores, entendem a irrealidade ingênua de tais “grupos de pressão”, mas vale a pena prestaratenção nessas tendências ao analisar campanhas menos institucionalizadas contra as mudanças climáticas.
Existem três tendências principais por onde muitas costumam transitar erraticamente.

sempre haverá lugares onde se pode ir para viver, para amar e para resistir a partir dali.

March 25th, 2019 by Deserto

Inclusive, mesmo que uma área se encontre, aparentemente, sob
o controle absoluto da autoridade, sempre haverá lugares onde se
pode ir para viver, para amar e para resistir a partir dali.

Podemos expandir esses lugares. A situação mundial pode parecer fora do nosso alcance, mas a realidade local nunca está. Por sorte, o fato de
que somos anarquistas não nos torna completamente impotentes
nem potencialmente onipotentes.

A revolução não está em todos os lados, nem em nenhum lugar.

March 24th, 2019 by Deserto

Qualquer biorregião pode ser libertada por meio de uma sucessão de eventos e estratégias baseadas nas condições que lhes são particulares,especialmente quando a civilização retrocede intencionalmente ou perde o controle graças aos esforços das habitantes.(…)

A civilização não triunfou em todos os lados e, da mesma forma, seu desmantelamento só ocorrerá em vários níveis, em distintos lugares e em diferentes tempos.